22 fevereiro 2008

Ou isto ou aquilo


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O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva:


- Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não tem mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas.


- Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite.


- Numericamente sim, mas não tem capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga o leite fora, em vez de jogar os garotos.


Carlos Drummond de Andrade


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Um comentário:

David Carneiro disse...

A grande infelicidade é que esta cronica nao é ficcional. Estima-se que mais de 30% dos alimentos produzidos no mundo sao disperdiçados, excluindo o desperdicio domestico. Ou rumamos para outra forma de produzir alimentos ou continuamos a produzir esse tipo de barbárie. Um grande beijo Bella e parabéns pelo seu novo blog. Continue nos mostrando as contradições desses tempos hodiernos.